Igor Lino | 20 de janeiro de 2011

Biutiful

Nas obras anteriores de Alejandro González Iñárritu (como “Amores brutos” (2000) ou “Babel” (2006)), víamos várias histórias convergindo em um ponto único e crucial do filme. “Biutiful” (2010), sua mais nova e já premiada produção, é diferente. É uma história que dá origem a várias, mas sempre voltando ao ponto que as une, o protagonista […]

Nas obras anteriores de Alejandro González Iñárritu (como “Amores brutos” (2000) ou “Babel” (2006)), víamos várias histórias convergindo em um ponto único e crucial do filme. “Biutiful” (2010), sua mais nova e já premiada produção, é diferente. É uma história que dá origem a várias, mas sempre voltando ao ponto que as une, o protagonista interpretado de forma única pelo espanhol Javier Bardem.

Dotado de um olhar crítico e que não procura eufemismos para diminuir a dor da realidade, “Biutiful” é a história de um homem comum. Uxbal (Bardem) faz bicos para sobreviver, tem uma família desestruturada, sofre a falta de dinheiro e dignidade e, em meio a atribulações do trabalho e da vida, descobre-se doente terminal. Tudo isto é representado na escondida e esquecida periferia de Barcelona, introduzindo um novo e realista olhar da bela cidade; um novo ponto de vista sobre a mesma coisa. E o faz bem.

Bardem foi merecidamente premiado com a Palma de Ouro em Cannes, e vem fortalecido para a disputa do Oscar. O ator parece somar todo seu conjunto da obra e exteriorizar, cheio de sensibilidade, as atribulações de um heroi cotidiano devastado pela dureza da vida. Na construção do personagem, ele encontra o ponto exato entre o medo e a coragem, a suavidade e a aspereza, mostrando-se vulnerável, compassivo, humano. Como ele, também os filhos e a esposa bipolar dão o complemento e seguram muito bem o roteiro, também assinado pelo diretor mexicano.

Em “Biutiful”, Iñárritu traz as experiências cotidianas vividas com toda a rigidez que lhes cabe, mostradas com uma delicadeza própria. Com câmeras fechadas nas expressões, não evita mostrar a globalização e a exploração da miséria humana. Mostra-nos quem são as pessoas exploradas, nos faz afetuosos por elas e então nos choca, com a simples realidade. O fundo político não passa despercebido pois as mensagens são decifradas sensorialmente pelo espectador.

É bem feito, interessante, cativante e muito, muito indigesto. Porque trata, sobretudo, da inevitabilidade, difícil de lidar, aceitar e se acostumar. E há que se acostumar com ela?

Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Armando Bo,
Elenco: Javier Bardem, Maricel Alvarez, Hanaa Bouchaib, Eduard Fernández.
Duração: 147 minutos

Por Victor Gouvêa, do Blasfêmia Cotidiana