| 17 de janeiro de 2011

O Mágico

A arte do cinema mostrando a morte da arte do circo. Este pode ter sido o principal recado de Sylvain Chomet ao adaptar a triste e sensível história feita pelo mestre Jacques Tati, considerado o Charles Chaplin do cinema francês. “O Mágico” que estreou neste fim de semana no Brasil conta a perigrinação de um […]

A arte do cinema mostrando a morte da arte do circo. Este pode ter sido o principal recado de Sylvain Chomet ao adaptar a triste e sensível história feita pelo mestre Jacques Tati, considerado o Charles Chaplin do cinema francês. “O Mágico” que estreou neste fim de semana no Brasil conta a perigrinação de um ilusionista francês na tentativa de vender sua arte.

Não espere crianças nas poltronas do cinema. “O Mágico” é um exemplo peculiar daquilo que chamamos de animação para gente grande. O estilo da arte, o timing e principalmente o conteúdo interessará muito mais os adultos dos que os pequeninos. Melhor assim! Sem choro, nem risadas infantis fica ainda mais convidativo a viagem dentro da história de Tati.

Marca registrada de Jacques Tati, “O Mágico” é praticamente um filme mudo. São tão raros os diálogos que a distribuidora nem se deu ao trabalho de traduzir as poucas falas para o português. A força da linguagem corporal fala mais alto e dispensa qualquer tradução.

A história conta a trajetória de um mágico francês que não consegue agradar mais o público com suas mágicas manjadas. Parte da França para a Inglaterra, e vai sobrevivendo com poucas apresentações que aparecem. Em busca de novos lugares para suas mágicas, acaba viajando para a Escócia, onde permanece vendendo sua arte por trocados. Lá, acaba conhecendo Alice uma menina que trabalha no hotel onde está hospedado e é fascinada por suas mágicas.

Na volta para a Inglaterra, descobre ainda no percurso que Alice o acompanhara e a partir daquele momento iriam viver juntos. As dificuldades para sobreviver com as mágicas aumentam, mas sempre quando vinha algum dinheiro, o mágico dava um jeito de presentear Alice que se encantava com as vitrines de roupas e sapatos de Edimburgh, local onde acabam se estabelecendo.

As coisas parecem só piorar para o mágico que num processos de sucessivos fracassos percebe o fim da sua arte como forma de sobrevivência. Na mesma pensão onde moram, outros artistas estão na mesma agonia de não conseguir mostrar seu trabalho, caindo no alcoolismo, pensando no suicídio diante de tanto ostracismo.

Todo esse processo de desvalorização da arte circense vai sendo muito bem construído por Sylvain Chomet que de forma sutil faz uma crítica ao abandono desses artistas outrora tão valorizados e hoje com o advento da tecnologia, dos efeitos 3D, do espetacular, foram largados à marginalidade.

O ponto alto do filme, pelo menos pra mim, foi o momento em que o mágico entra no cinema e vê na tela a imagem do filme “Meu Tio” (1958) de Jacques Tati, onde o próprio ator aparece. A cena emociona e mostra o caráter homenagioso de Sylvaim Clonet a Tati. Sensacional, reflexivo e triste.

Título original: L’illusionniste

Diretor: Sylvain Chomet

Roteiro: Sylvain Chomet (adaptação), Jacques Tati (roteiro original)

Voz: Jean-Claude Donda, Eilidh Rankin, Duncan MacNeil, Raymond Mearns, James T. Muir, Tom Urie e Paul Bandey

Minutos: 90 minutos

Por Fernando Império, editor chefe