| 10 de janeiro de 2011

Além da vida

“Além da vida” pode não ser um dos grandes filmes de Clint Eastwood, mas é mais uma prova cabal do grande contador de histórias que ele é. Logo em seu impactante início, o cineasta declara sua impressionante capacidade de conceber um espetáculo sem prescindir da emoção. Quando um tsunami varre as ruas da Tailândia e […]

“Além da vida” pode não ser um dos grandes filmes de Clint Eastwood, mas é mais uma prova cabal do grande contador de histórias que ele é. Logo em seu impactante início, o cineasta declara sua impressionante capacidade de conceber um espetáculo sem prescindir da emoção. Quando um tsunami varre as ruas da Tailândia e acompanhamos uma das principais personagens (a quem acabamos de conhecer e, portanto, ainda não decidimos se gostamos), o coração fica na mão. Tanto pela beleza e austeridade da cena, quanto pela força dramática da mesma. E assim segue “Além da vida”; aliando plasticidade com profundidade.

A trama traz três arcos (e três personagens) que lidam com a morte e sua representatividade. Apesar de forte apelo espírita, a fita não defende a religião, nem sequer assume as teses dos protagonistas. Nesse sentido é um filme mais honesto e universal do que as recentes produções sobre o tema que ganharam o cinema. O interesse de Eastwood aqui é observar como esse punhado de personagens lida com situações tão extremas como a experiência de quase morte vivida pela jornalista francesa Marie Lelay (Cécile da France), narrada no início dessa crítica, ou quando gêmeos unidos são separados por uma tragédia idiota ou a opção de um rapaz que se julga amaldiçoado por conseguir contatar os mortos.

Eastwood desvela sua trama sem pressa e com o habitual trânsito de sutilezas. Tudo que George Lonegan (um Matt Damon bastante contido) quer é ser capaz de ter uma verdadeira conexão com uma pessoa viva, algo que se torna improvável em virtude de sua habilidade. A cena final do filme, carregada de sutileza, providencia um tenaz comentário a respeito da busca desse personagem. Eastwood perpassa com destreza eventos que marcaram a história recente da humanidade, como o Tsunami na Ásia ou atentado terrorista no metrô de Londres e, a partir desses eventos, agrega valor e sentido ao drama de seus personagens. Aproxima-os do público. Assim como nos aproxima de George ao mostrar charlatões que se aproveitam da angústia humana para lucrar como videntes.

Clint Eastwood não defende o espiritismo como resposta aos anseios que a fatalidade precipita. Ele irradia vida com seu filme. Apenas isso. Viver, expõe o cineasta, ainda é a grande busca de nossas vidas. Não importa onde elas vão dar.

Título original: Hereafter

Direção: Clint Eastwood

Roteiro: Peter Morgan

Elenco: Matt Damon, Bryce Dallas Howard, Cécile de France, Jay Mohr, Frankie McLaren e George McLaren

Duração: 130 min

Por Reinaldo Glioche