Heitor Machado | 17 de outubro de 2010

A (des)importância do Oscar no século XXI

É verdade que no final da década de 1920, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas criou o Academy Awards, todos os atores, diretores, roteiristas e produtores gostariam de ser vistos no tapete vermelho e, principalmente, gostariam de ser reconhecidos por seu trabalho. É evidente que isso ainda acontece. Afinal, o Oscar continua sendo […]

É verdade que no final da década de 1920, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas criou o Academy Awards, todos os atores, diretores, roteiristas e produtores gostariam de ser vistos no tapete vermelho e, principalmente, gostariam de ser reconhecidos por seu trabalho. É evidente que isso ainda acontece. Afinal, o Oscar continua sendo o prêmio de maior influência no mundo do cinema.

Mas…influência para quem? Para o espectador desiludido, certamente que não. Observando de todos os ângulos a decadência e falta de perspectiva de Hollywood em um mundo cada vez mais plural, os amantes da sétima arte se desligam mais e mais dos Transformers e Sextas-feiras Trezes e se voltam com voracidade para produções profundas, sensíveis e de muito mais relevância intelectual – nem precisaria citar exemplos, mas só para expor alguns, O Segredo dos Seus Olhos e Sobre Deuses e Homens.

“Não vale”, vocês poderão dizer. “O longa argentino foi vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro esse ano”. Certo, em momento algum afirmei que só havia lixo em Hollywood. É claro que a Academia se preocupa em premiar filmes que são obviamente bem recebidos pela crítica. Vez ou outra a Academia nos surpreende, adulando filmes como O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, o único longa de fantasia na história que venceu a categoria de Melhor Filme, ou ainda Guerra ao Terror, que premiou pela primeira vez uma diretora do sexo feminino.

O que acontece, contudo, é muito mais implícito do que os resultados mostram. Claro que há algumas boas surpresas na premiação de Los Angeles. Mas o sentimento que rola por trás das cortinas não tem relação alguma com o clima de euforia que sempre é mostrado nas cerimônias – como se ainda estivéssemos lá, nos anos 30.

A verdade é que o público deixou de se interessar pelo Oscar há anos. Representação fiel da típica sociedade norte-americana, a premiação não expressa o desejo do público e a opinião da crítica. É mera politicagem de um bando de coroas que acham que compreendem a revolução constante do cinema. Um exemplo mais do que claro? Avatar. O filme não é bom, o roteiro é falho, mas é inegável sua importância na revolução do cinema 3D – não esqueçamos que James Cameron é um vanguardista por excelência. E nenhum dos dois levou.

O que explica, então, o desinteresse cada vez maior do espectador com relação ao Oscar? Acredito que a primeira resposta seja o interesse maior em outras premiações de igual ou maior relevância no mundo artístico, que representem mais fielmente as escolhas do público e da crítica. A segunda, a disseminação cada vez mais abrangente de filmes não-hollywoodianos (sejam eles pseudo-intelectuais, undergrounds ou de Bollywood) também faz o público exigir produções diferentes do que é comumente apresentado no Oscar.

Repito: a Academia vez ou outra apresenta as escolhas que nós mesmos fazemos (acredito que Up – Altas Aventuras e as premiações a Christoph Waltz e Heath Ledger tenham sido mais do que apropriadas). Mas, na enorme maioria, também nos empurra goela abaixo filmes que não marcam tendência e muito menos época e, o que parece pior, nos faz presenciar situações constrangedoras e ultrapassadas – como a própria cerimônia em si.

Por Maira Giosa, do Projetor